terça-feira, 28 de novembro de 2006

Das paradas e das coisas

Ouvi uma vez um comentário sobre o vocabulário limitado dos jovens. Afora o preconceito evidente de qualquer comentário que segmenta um grupo e torna exótico seu comportamento e o fato de eu me incluir no segmento, pelo menos da perspectiva do meu interlocutor, pareceu-me essencialmente correta a afirmação, ainda que discorde das conseqüências mais apocalípticas previstas por ele.
Temos que confessar que substantivos como "coisa", "parada" e "treco", além dos seus diminutivos, denominam, para a nossa geração, uma imensa gama de objetos, materiais e imateriais. E adjetivos como "maneiro" e "sinistro", entre outros, servem, às vezes ao mesmo tempo, como elogio, crítica e/ou apenas como interjeição. Sinistro!
Na versão apocalíptica do meu interlocutor, a humanidade estaria regredindo e eventualmente perderia a capacidade de se comunicar. E, como o pensamento depende da linguagem, perderíamos, no limite, a capacidade de pensar. Caraca!
É evidente que discordo dessas conclusões. A linguagem, assim como os demais aspectos da cultura, são vivos. Mudam diante da necessidade. Palavras e significados novos são construídos pelo uso. Enquanto nos relacionarmos uns com os outros, mesmo que com intermediação eletrônica, vamos usar e abusar da linguagem em função de comunicarmos nossas idéias, anseios, angústias, desejos, humores e demais sentimentos e informações que compartilhamos. Para tudo isso e para nos identificarmos como grupo, mudamos a linguagem tanto quanto necessário. Se significados e palavras caem em desuso, outros tantos passam a ser usados no seu lugar. Aê!
Ou seja, enquanto houver tetéias, gatinhas, potrancas ou cachorras passeando por aí haveremos de encontrar um jeito de comunicar-lhes nosso galanteio, cantada ou chaveco. Maneiro!
O perigo está na mudança do padrão das relações que estabelecemos entre nós. Esse sim está mudando para pior. E linguagem e demais aspectos da cultura não têm nada a ver com isso. Mas sobre isso escrevo outro dia porque o tema é brabo. Putz!

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