sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Como lidar? Lição nº 2: discorde sob sua própria conta e risco

Aprendemos na lição passada que os sem-educação têm opiniões como todo mundo. O que os diferencia dos demais são as formas bizarras, extremas e, na maioria das vezes, escatológicas que escolhem para expô-las e defendê-las. Aprendemos também que os sem-educação têm cu também como todo mundo. A diferença aí é que a maioria educada finge que não tem enquanto os sem-educação não se importam de reconhecer e debater sua existência. Além disso, prezando e reconhecendo seus respectivos fiofós, procuram defender veementemente sua integridade, na maioria das vezes, de forma considerada inadeqüada pela maioria educada.
Debater e confrontar opiniões não é mal visto entre os grossos e difíceis de lidar como pode parecer a primeira vista. A população educada tem horror a contrariar os sem-educação. O que sempre representa um problema, quase nunca para os sem-educação, é claro. A dificuldade reside no discurso relativista da maioria educada. Ao contrário do que propõe o relativismo metodológico, não é porque todo mundo tem opinião (e cu!) que todas as opiniões são iguais. Raciocínio equivalente aplica-se aos fiofós, por suposto. Há cú e opinião de todo o tipo e para todos os gostos.
O que diferencia os grossos e difíceis de lidar nesse particular é que, em sua maioria, são sujeitos mais preocupados e, definitivamente menos complacentes, que a maioria educada. A maioria educada contempla, aceita e/ou conforma-se placidamente com o conjunto de suas idéias e, conseqüentemente, com o destino, visto como em grande medida inevitável, dos seus cus. Por sua vez, os sem-educação, grossos e difíceis de lidar pensam, refletem, revisam e, por vezes, rebelam-se contra as opiniões mais aceitas e, principalmente, contra os que pretendem bulir com a integridade virginal dos seus fiofós. O ditado "quem tem cu, tem medo." foi criado por um grosso e aplica-se, principalmente, a essa minoria mal vista da população. Posto que a maioria educada pode até temer mas, na maioria da vezes, resigna-se com a perspectiva do empalamento.
Discordar de um sem-educação é, portanto, até desejável na nossa perspectiva grosseira e sem modos. Opiniões diferentes são oportunidades extras para revisar, analisar, conferir e testar nossas próprias opiniões. É certo que quase sempre tal processo resulta na reafirmação das nossas opiniões iniciais. Mas também é comum que, em vista de novas informações e perspectivas, reconsideremos nossos pontos de vista. Procurando sempre manter a coerência, é claro, já que, como foi visto na lição passada, opinião a gente troca. O cu, não.
Aproveito para advertir os cidadãos educados e de bem que, ao discordar de um sem-educação, você estará, como sempre, sob sua própria conta e risco. Assim como não se deve atravessar a rua sem olhar para os dois lados não se deve entrar numa discussão com grossos de qualquer estirpe sem ter pensado ao menos um punhado de vezes nas opiniões que pretendem defender e nas implicações delas. Principalmente para a integridade das pregas dos envolvidos no debate.
Lembrem-se sempre que os que são chamados de grossos e difíceis de lidar costumam elocubrar constantemente e, com isso, têm mais chance de já ter pensado de antemão nas tais implicações. Lembrem-se, também, que os grosseirões e difíceis de lidar não flanam pela vida afora, como os bem-educados, sem muito considerar a coerência de suas posições, assim como, as melhores alternativas para resguardar e manter a integridade de suas pregas.
Por fim, cabe destacar que recursos da linguagem pouco amistosos e, por isso, subutilizados por cidadãos de bem são de uso comum entre os grossos, como a ironia. Não reclame se, ao discutir com um grosso, tomar uma piada suja, uma imagem escatológica ou mesmo um insulto de baixíssimo calão na testa sobre os olhos. Pode-se cair de quatro e ralar o joelhinho.
Na próxima e última lição, analisaremos a provável origem do temor que nós inspiramos nos cidadãos de bem e que resulta na nossa imagem de proscritos no mundo moderno e politicamente correto.

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