terça-feira, 28 de novembro de 2006

O imbecil solícito

Todo mundo conhece pelo menos um imbecil. Qualquer sujeito, no mundo inteiro e em qualquer época, terá mais dificuldade em responder de supetão qual a cor do sapato que está usando do que em recitar o nome de um imbecil do seu conhecimento. Salvo, é claro, por constrangimento (há um best seller novo na praça intitulado "Como trabalhar para um idiota" ou algo parecido) ou porque não consegue se decidir, entre os idiotas que conhece, qual é aquele que merece ter seu nome registrado para a posteridade.
Ouvi uma história, não faço idéia se verídica, que atribui ao Delfim o seguinte raciocínio: Os indivíduos são egoístas. Por isso, quando ouvem ou lêem algo que não entendem atribuem ao autor da mensagem grande inteligência ao invés de admitirem a própria ignorância. A crueldade da lógica seguramente reforça a veracidade da história...
Vista pelo avesso a historieta acima pode iluminar a onipresença do imbecil. Egoístas, tendemos a enxergar idiotia por todos os lados exceto quando olhamos no espelho. Pode ser. Afinal, o problema são os outros. Mas e se reconhecermos nossa própria idiotia? Pagando regiamente nossos analistas e olhando fixamente para nossos umbigos uma, duas ou até três vezes por semana não poderíamos, enxergando imbecilidade até nos nossos próprios espelhos, ver a verdadeira face dos imbecis?
É fato: todo mundo já pisou na jaca. Ou seja, somos ou já fomos imbecis aos olhos de alguém. O que permite a qualquer um falar com propriedade dos idiotas que conhece. Suspeito que a fofoca surgiu daí.
Há imbecis de todos os tipos e para todos os gostos. Há os famosos, os da TV, os da política. Alguns tornam-se lendários como o Conselheiro Acácio. Há autores que têm fixação pelos seus imbecis prediletos. Nelson Rodrigues falava muito sobre um tal Luvizaro. Há também o imbecil anônimo. Aquele do dia a dia. O da trombada na rua, do ônibus errado, da fechada no trânsito. Há mesmo os que viram celebridade instantâneas tipo a baranga que dançou com o Bono, ele próprio um imbecil e tanto. E o marido dela, o corno do ano? Teve a própria imbecilidade exposta e coroada por uma par de chifres no embalo da idiotia da mulher. Esse aí vai pro céu dos cornos...
Mas não há pior do que o imbecil solícito. Aquele mesmo que a gente só não xinga porque o idiota é bonzinho. Esse tipo de imbecil tem uma certa propensão a descobridor da pólvora. Grande inventor da roda, o imbecil solícito é humilde. Um tímido. Todas as suas idéias brilhantes são apresentadas como sugestões obsequiosas. Aparentemente o imbecil solícito é um animal em extinção. Não que a imbecilidade esteja em baixa. A solicitude é que está démodé. Os que restam continuam a atazanar a nossa vida. Passam por inteligentes. Afinal, a pólvora e a roda não são redescobertas todo dia. E, como o Delfim tem razão, há sempre um séquito de idiotas prontos para admirar as redescobertas do imbecil solícito.
E o pior é que não podemos fazer nada já que qualquer condenação ou imprecação proferida contra imbecil solícito volta-se imediatamente contra seu autor. Como cuspir pra cima. Um sujeito tão solícito é sempre uma unanimidade. O que fazer? Não nos resta muita esperança. Exceto, talvez, desejar secretamente que a mulher do imbecil solícito vá ao show do U2...

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