terça-feira, 28 de novembro de 2006

Sir Salman e Mrs Rose Tea

Amavam-se. Eram inseparáveis. Incontáveis os anos de vida comum.
Ele um sr. longilíneo de feições cortantes. Destaca-se no seu rosto um nariz estreito e longo, curvado levemente para baixo. Nas suas muitas horas de leitura dependurava em seu nariz um pincenê de grau com aro redondo. Cabelos permanentemente engomados. Mãos longas e finas com unhas impecavelmente tratadas. Via-se de pronto que se tratava de alguém com educação aristocrática. Refinadíssimo nos modos e nos gostos. Impossível determinar-se-lhe a idade. Parecia há muito parado no tempo.
Ela uma sra. rotunda. Ombros largos, quadris fartos. Mãos e pés encaixados como pilões nas curtas e grossas engranagens que eram seus braços e pernas. Trazia os cabelos loiros quase sempre em um coque. Vestia-se com modos mas de maneira simples. Havia sido educada, como todos na sua família, em internatos religiosos. Conhecia as manifestações artísticas e filosóficas de seu tempo mas não valorizava os grandes feitos. Valorizava a simplicidade. O ciclo das plantas, o manejo da terra, a alquimia das receitas. Na solidão da casa, satisfazia-lhe as longas horas de trabalho dedicadas à manutenção da ordem das coisas. Ordem que lhe parecia tão natural quanto o dia e a noite, quanto às estações do ano. Assim como o sol apareceria, eventualmente, depois de uma chuva, os potes de arroz, farinha e açúcar haveriam de ser encontrados na porta de cima do armário da cozinha. Como ele, não demonstrava a idade que tinha. Mas não havia parado no tempo. Pelo contrário, era atemporal.
Sabia-se dele que vivera a Belle Epoque. Trabalhara em serviços diplomáticos. Viajara meio mundo, ida e volta.
Sabia-se dela que vivia de casa para a igreja, da igreja para casa. Isso quando retornara à casa da família. Enquanto esteve fora, estudando, esse roteiro resumia-se a cruzar o pátio interno da escola. Afinal, morava e estudava na igreja.
Encontraram-se numa apresentação musical na Igreja Matriz. Ela fora acompanhando seus pais e irmãos. Em deferência ao convite do padre porque ao evento precedeira missa presidida pelo Arcebispo. Ele fora só, convidado pelo eminente músico francês que re-inauguraria o piano da catedral. Conheciam-se dos seus anos parisienses.
O êxtase religioso dela antecedeu o êxtase musical dele. Mas ambos foram antevistos na entrada da igreja. Viram-se. E do olhar de um de outro brilhou a esperança dos êxtases imediatos e futuros, principalmentes destes, dos muitos êxtases que viriam.
E vieram. Tinham que vir. Foram tomados por um tal amor que não haveria impedimento que não pudessem mover. Por fim, casaram-se.
Não tiveram filhos. Filhos, embora, façam-se simplesmente, não adicionam simplicidade à vida. E para fazê-los, não ajuda o pincenê.
Ninguém jamais entendeu o que os atrai um ao outro. Mas sujeitos à mão de ferro do seu amor, embora eles próprios não o compreendam, obedecem.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Fala hermano!
Precisamos trocar mais idéias mano velho!
Já tenho dois filhos e tudo!
Meu msn é pakkatto@hotmail.com

2:21 AM  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial