segunda-feira, 17 de março de 2008

Náusea

Há uns tempos atrás, munido de toda minha falta de juízo e incorporado de todo meu espírito de aventura, arrisquei a leitura de "A Náusea" de Sartre. Pobre e mão de vaca assumido, claro que não meti a mão no bolso por ele. Reservo meus caraminguás para outra cepa bens de consumo não-durável. Mormente do tipo entorpecente e solúvel em água. Peguei-o emprestado a alguém que amo e tenho na mais alta consideração. Enquanto lia quase rebaixei minha dileta companhia pelo simples fato de tê-lo lido. Depois mantive-a no posto ao saber que também não tinha boas lembranças da leitura, na verdade, quase não guardara registro de havê-lo lido. O que não depõe a favor de qualquer obra, pois não?
Estranho século XX. Só nessa idade de trevas um livro daqueles vira best-seller. Sei pouco de filosofia. Muito menos da filosofia de Sartre. Mas como artista pode-se dizer, com esforço d'alma e boa-vontade incomum, que Sartre é um bom filósofo.
O personagem central narra sua história que vai do nada a lugar nenhum. Não desperta no leitor, pelo menos não nesse leitor, qualquer sensação senão de tédio. E uma raiva ocasional pela perda de tempo. Há obras de arte que tentam despertar algum tipo de sensação de desconforto. Falo de desconforto físico e não moral. Porque ninguém agüenta mais arte engajada que quer chocar a burguesia e sua moral cristã conservadora. O livro "A preguiça" da série os sete pecados capitais é um exemplo bem sucedido. O filme "Cinema, aspirinas e urubus" também.
Bom, falei isso tudo para dizer que desde que tomei um remédio que me causou náuseas como efeito colateral, ando sentindo a chegada da menopausa. Meu lado mulher que até então se resguardara, revela-se agora uma jovem senhora em pleno climatério. Volta e meia sou tomado por calafrios, suores e uma sensação de enjôo que só parcialmente consigo controlar. Sinto-a chegar de longe. E, às vezes, se me concentrar nela, consigo fazê-la aproximar-se (e, conseqüentemente, dissipar-se) mais rápido.
Vai ver que fui tomado pelo mal após a leitura. Peguei náusea. Nunca me senti mais cidadão do meu tempo quanto agora. Eu que sempre fui meio chato agora sou um enjoado nauseabundo. De qualquer forma, pretendo de agora em diante evitar leituras controversas. Sabe-se lá do que mais a gente pode se contaminar?