sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O mundo é cor de rosa (mas tem um creminho que acaba com a irritação)

Trabalho cercado de mulheres. Até algum tempo atrás ainda havia um colega que ajudava a manter os níveis de testosterona do escritório em patamares considerados normais. Mas como o mundo é mesmo muito estranho e considerando sua obsessão ao erro, à imperfeição e ao descaminho, a idade de ouro chegou para meu colega. Aposentou-se. Desde então enfrento sozinho entre elas a faina diária. Venho cumprindo minhas obrigações a contento, obrigado. O cotidiano, sem grandes sobressaltos, dos procedimentos sob a nossa responsabilidade testemunha a meu favor.
Antes que o alarme “misógino” ressoe entre os leitores mais sensíveis, ou “bichona” entre os menos familiarizados às normas cultas do vernáculo, faço questão de dizer que em toda minha vida profissional durante apenas alguns meses, de triste lembrança, não tive pelo menos uma mulher nos níveis hierárquicos acima do meu. Ou seja, minhas melhores e mais ricas experiências profissionais foram vividas sob o comando gentil e decidido que as mulheres sabem exercer muito bem.
Feito o elogio, abaixo as calçolinhas. É fato bastante conhecido, o que dispensa apresentações mais elaboradas, que ambientes onde os níveis de progesterona excedem não primam pelo método, pela ordem e, principalmente, pela criteriosa observação de prazos e limites. Não me consta que grandes descobertas científicas, brilhantes peças de literatura ou de oratória ou mesmo os cálculos eficientes de estruturação de qualquer obra de arte do engenho humano tenham sido concebidos e/ou desenvolvidos, enquanto se lia o exemplar de março de 2003 da Caras e falava-se mal da vida alheia, num salão de beleza.
É claro que ambientes predominantemente femininos tendem a ser mais arrumados, limpos e aprazíveis do que os ambientes hiper-masculinos. Compare-se, por exemplo, uma academia de jiu-jitsu e a sala da casa da avó. Mas é muito mais provável que a aula de jiu-jitsu vai começar na hora do que você chegar a tempo de pegar a sessão das 7, tendo tomado chá da tarde com a vovó.
Fui do escritório à academia e de lá à casa da vovó para só então voltar ao escritório e descortinar o que me motivou a escrever estas linhas. É que recentemente se incorporou à equipe em que trabalho uma jovem senhora, dois filhos adolescentes, que fez transbordar os níveis de progesterona locais. Não pára de falar um instante, com os outros, ao telefone, sozinha. Não pára. Simplesmente não pára. Se um incauto cair na besteira de deixá-la estabelecer contato visual é certo que ela vai enredá-lo numa conversa, mais um monólogo, sobre qualquer coisa desde as desventuras atuais do clima aos eventos musicais do fim-de-semana passando pela marca preferida de ração de gato e a pensão paga pelo ex aos seus filhos. Na verdade, como a matraca fala até sozinha, mesmo que não se atreva a cruzar os olhos com ela, é arriscado se muito próximo estiver ser arrastado para uma das suas “conversas”. É tanto e tão grave o negócio que eu, logo eu, ganhei fama de calado, obviamente por comparação.
Joguei a toalha. Nessas circunstâncias não me é mais possível manter o nível de testosterona sozinho. Para neutralizar a matraca é preciso uma intervenção das forças de operações especiais. Meia dúzia de soldados bem armados talvez tragam de volta a paz e a ordem que esse escritório perdeu. Nesse meio tempo, enquanto a ONU não vem, nada sai dessa sala no prazo. A menos que deixemos os processos habituais de lado e passemos a atividades mais condizentes com os recursos abundantes no momento. Já avisei a chefe. A única atribuição que aceito nas nossas novas funções é de fiscal de qualidade do setor de depilação. E que não me venham com buço. Eu só cuido das virilhas cavadas e das laterais anais. Se a freguesa quiser, a sopradinha sai de graça.