terça-feira, 15 de abril de 2008

Gênero e sexualidade

Lendo um dos meus blogs prediletos (pequenos delitos, veja aí na barra ao lado) deparei-me com uma mini pesquisa de opinião proposta pelo autor. Em dois posts, um para elas e outro para eles, o PD perguntava o que cortava o tesão de ambos, respectivamente.
Leio sempre alguns blogs sobre sexualidade, alguns deles estão aí na barra favoritos ao lado. Participo às vezes das polêmicas nos comentários. Mas nunca me entusiasmei a escrever aqui sobre o assunto. Não de forma explícita, pelo menos. Primeiro porque esse é um blog autoral. Portanto, o que escrever aqui será identificado como opinião deste autor que, como todo mundo, transita em diversos meios, uns mais e outros menos conservadores. Embora tenha opiniões, a maioria é impublicável. Não com meu jamegão embaixo...
Por outro lado, não escrevo ficção muito bem. Tento, vez por outra. Mas quem já leu meus textos, se não leu está convidado a fazê-lo estão logo aí abaixo, percebe a predominância das crônicas sobre a ficção em número e, principalmente, em qualidade.
Vou arriscar tratar do assunto porque as opiniões emitidas nos comentários aos posts do PD me causaram curiosidade irresistível. Não pretendo defender esta ou aquela opinião. Minhas opiniões pessoais deixei por lá em comentário. Quero aqui fazer uma reflexão, irônica como é do meu feitio, sobre os comentários que a galera sentiu necessidade de registrar por lá. Então lá vai.
Toda semana uma ou mais revista(s) traz(em) na capa matéria sobre as diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito ao sexo. Desde questões mais filosóficas e/ou psicológicas até e, principalmente, aquelas mais picantes que despertam o voyeur em todos nós. Sem falar nos milhares de títulos da literatura especializada, do He, She, We à Bruna surfistinha, passando pelos homens de Marte e as mulheres de Vênus.
Opiniões especializadas são opiniões como outras quaisquer. Ninguém obriga a acreditar em opiniões de especialistas. Embora muitos deles apresentem as suas recheadas de argumentos de autoridade. O que me chamou a atenção foi a moda das várias respostas ao PD. Aos dois posts somavam-se uns 120 comentários, mais ou menos. É muita opinião em pouco espaço. E isso é ótimo material para refletir...
De forma geral, os homens relatavam dois tipos de atitudes femininas consideradas brochantes. Uma relacionada, em grande medida, a atributos masculinos. Outra, mais importante, relacionada a um certo código de conduta altamente conservador.
Por um lado, a rapaziada reclamou das mocinhas pouco vaidosas e/ou asseadas. No linguagem dos nativos: fedorentas e peludas. Várias partes do corpo foram indicadas para depilação, sob pena de, na presença de pêlos indesejáveis, obliterarem a "paudurecência" dos sensíveis parceiros: o rosto, bico do peito, axilas, etc. Houve até quem reclamasse dos pêlos no fiofó das mocinhas! E ai das mocinhas que não estejam imaculadamente perfumadas! Ferormônio? Nem pensar. Chanel nº 5. No mínimo. Fora disso, banho. Cama? Só se for sozinha.
O "feminino" não tem nada a ver com genética. Cromossoma X, uma ova! Pelo contrário, é uma condição arduamente conquistada. Atingida somente mediante muito esforço e dedicação. Horas e horas de escova, cera quente, perfumes, óleos, tintas, esmaltes, polimentos, lixas, tesouras e outros instrumentos de tortura medievais. Ou seja, ser mulher dá muito (mas muito!) trabalho. Qualquer coisa menos do que isso não é "feminino", pelo contrário, é animal, animalesco. Masculino, enfim. O que me leva à seguinte reflexão: embora sejamos animais muito parecidos, a mulher tem que se esforçar para ser diferente do que é porque os homens tem aversão àquilo mesmo que os faz (a todos!) homens: cheiros, unhas, pele e pêlos. Suspeito que isso é parte da aversão masculina a acusação de homossexualidade. Qualquer característica numa mulher que lembre vagamente uma qualidade ou atributo tido como masculino deve ser prontamente rejeitada. Que homens seríamos nós se nossas mulheres tiverem buço? Viados! Donde, buço é definivamente brochante. Suor? Coisa de homem! Mulher cheira a rosas. E por aí vai.
Por outro lado, a cuecada reclamou das mulheres IML. Aquelas mocinhas mais passivas e recatadas que transam em silêncio, sem grandes estripulias e malabarismos. Quem vai dizer que isso não é brochante? Não fica claro nos comentários a quem esse tipo de crítica se aplica. Nelson Rodrigues, só para citar um exemplo entre vários, tratou em diversas oportunidades das diferenças entre as mulheres de casa e as mulheres da rua. Seriam as mulheres IML mulheres de casa ou mulheres da rua? A julgar pelo que se pode imaginar como perfil dos leitores do PD, jovens adultos, 30 anos em média, classes médias e altas, com acesso à internet e tempo para leitura de blogs, etc, é de se imaginar que a rapaziada quando fala mal das mulheres IML está falando das mulheres da rua. Saiu, foi pra "nigth", pegou uma mocinha, arrastou pra cama e ela nem se mexeu! Brochante. Claro.
Pode ser preconceito, mas duvido que qualquer dos comentaristas tenha imaginado como ideal sua santa mãezinha ou, para evitar o incesto mais tabu, sua querida irmãzinha, numa trepada espetacular, cavalgando com desenvoltura e desfiando, em alto e bom som, vocabulário capaz de fazer corar um estivador. Donde, concluo: mulher lanchinho tem que fazer com gosto, tem que dar gostoso, como profissional. Uma lady na mesa e uma louca na cama, como diria o Wando. Já a mulher para casar, essa, não se sabe, mas desconfio que não seja desejável tanta desenvoltura.
Já as mulheres reclamaram de um monte de coisas. Desde homem pelado e de meias, (O que é realmente ridículo! Tire sempre suas meias antes de tirar as calças!) até da cueca folgada, furada ou suja. Pelo visto, tem muito homem por aí de cueca velha e/ou mal lavada. Mas sobretudo, reclamaram de homens que não as esperam gozar, ejaculadores precoces ou egoístas sem consideração, e daqueles homens "sem pegada".
A julgar pelo perfil mais provável da mulherada leitora do PD, em média 30 anos, classe média, provavelmente empregadas ou ao menos estudadas, pós-feministas, etc, é bem razoável que queiram se relacionar com homens que lhes permitam usufruir a atividade sexual. O gozo é uma conquista feminina incrivelmente recente. Nisso elas estão cobertíssimas de razão. Se não fazemos sexo estritamente para reprodução é uma questão de igualdade que elas gozem também. Ou não?
Agora é curioso o desejo manifesto delas por homens "com pegada", que comandem a dinâmica das atividades de alcova. Que não façam perguntas: desde "como você gosta?", "como você quer?" até o famigerado "você gozou?", entre outras. Que não demostrem insegurança, etc. Teve até quem dissesse que prefere homem cafajeste! Ok, essa eu já tinha ouvido antes mas sempre me espanto com isso! As mulheres querem homens com H maiúsculo. Homem macho! Donde conclue-se: não basta ter nascido XY, tem que cultivar esse jeito cafajeste de ser. Na linguagem das nativas: tem que ter pegada. O que, embora precise de menos horas de tortura para ser atingido, também requer esforço. Muito esforço. Podemos ser preguiçosos e não cuidar do nosso asseio com tanto afinco, contanto que nossas cuecas sejam novas e limpinhas. Em compensação temos que demonstrar segurança, arrojo e destemor diante das incertezas do mundo. Temos obrigação de garantir a segurança e o conforto das nossas parceiras. No imaginário delas temos ainda o papel de cavaleiros de armadura. Senão elas "brocham". E, mais importante, não dão pra gente!
No que concordam homens e mulheres. Apesar de todas as diferenças. Homens e mulheres devem ser diferentes. Homens preferem mulheres "femininas" e mulheres preferem homens "masculinos". De certa forma, é bom que seja assim. Se nosso imaginário fosse tão divergente quanto às vezes se pinta, as frustrações seriam tão grandes que não teríamos qualquer chance de sermos minimamente felizes. Ou, então, as mudanças que estão sempre ocorrendo seriam tão rápidas e desestabilizantes que a angústia de viver seria insuportável.
PS: Ocorreu-me agora, depois de terminar o texto, que o tal metrossexual não está muito bem cotado entre as leitoras do PD. A menos que esse papo todo de metrossexual se resuma às cuecas limpinhas...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Maiúsculas

Queria escrever sobre o olhar. Sobre aqueles dias em que a gente anda pela rua e vê o mundo com estranhamento. Reparando tudo. Esses dias têm até cheiro. Um cheiro estranho mistura de embalagem plástica e terra molhada. Enquanto pensava em olhar esqueci-me de ver. Dei de encontro com um fradinho que delimitava a calçada. Doeu.
Estranhos devaneios estes. Qual o limite entre ver e olhar?
Vê-se, por vezes, sem olhar. A delimitação objetiva. A razão no controle. E olha-se sem ver. Emoção na veia. O olho que explora. O olhar sente. A visão faz sentido.
Como tudo o mais há que se tomar partido. Escolher seu lado. Escolhi.
Antes olhar e não ver. Dói mas dá mais prazer.
À propósito, um voyeur olha ou vê?